quinta-feira, 14 de abril de 2011

O retrato da Escola na Educaçãao Atual

ESCOLA -SALTO PARA O FUTURO
Série: RETRATOS DA ESCOLA
Programa: Escola Cidadã – demandas e perspectivas
Texto: Por uma nova cultura de participação e democracia das relações na escola.

A TECNOLOGIA CONTRIBUINDO PARA UMA ESCOLA CIDADÃ

Sonia Schechtman Sette

Introdução

Na atualidade, a expressão “inclusão digital” tem suscitado polêmica, levantando-se
críticas com respeito à supervalorização que vem sendo dada às Tecnologias da
Informação e da Comunicação (TIC).

É bem verdade que as TIC não representam uma panacéia. As questões de base que
conduzem a uma vida social e humana sem a qualidade desejável e até de forma
perversa na maioria dos casos, são de outra ordem e dizem respeito ao modelo vigente
de organização de nossa sociedade. Essa temática adquire tons ainda mais fortes,
quando a tratamos no contexto atual da chamada “sociedade da informação” [1].

No entanto, o acesso às TIC, ou à chamada “alfabetização digital”, pode ser considerado
hoje em dia como fundamental para uma vida cidadã, analogamente à questão da
alfabetização convencional. As limitações hoje impostas àqueles que estão à margem do
legado do livro, do rádio, da televisão, do vídeo, do telefone, do computador, da
internet, são responsáveis em grande parte por seu distanciamento do mundo do
conhecimento e consequentemente por tolher suas possibilidades de se tornarem
protagonistas de suas ações.

Nessa perspectiva, e na consideração da educação para todos como direito, a Escola,
primeiro espaço em que as oportunidades de uma vida melhor se apresentam junto à
população, tem um papel relevante no que se refere à “inclusão digital”. A Escola é


assim o lócus privilegiado para o desenvolvimento das capacidades cognitivas,
sensitivas, afetivas e de sociabilidade das crianças e adolescentes, o qual, associado à
utilização das TIC potencializa o processo de construção do conhecimento e de
cidadania. Além de apoiar as práticas pedagógicas, as TIC significam um importante
instrumento que propicia a interação entre os atores do processo educacional, ampliando
ainda as fronteiras espaciais, atingindo interlocutores extramuros da escola, da cidade e
quiçá do país. As TIC oportunizam ao estudante, não apenas o acesso ao conhecimento
humano, disponibilizado em meio digital ou via interatividade (in)direta com autores e
leitores, mas, principalmente, a produção e difusão de sua própria criação. Esses novos
meios de comunicação, quando democratizados, acessíveis a todos, ensejam e dão voz e
poder ao cidadão.

Cabe ressaltar ainda a possibilidade de ampliação do papel da Escola, nesse cenário, no
qual ela se abre diretamente à comunidade, oferecendo-lhe seus espaços tecnológicos,
visando ao crescimento humano e social da população, particularmente de sua
juventude. Nessa direção, experiência importante e pioneira tem sido desenvolvida junto
à Rede Municipal do Recife, no âmbito do projeto “recife.com.jovem”, com a adição de
ônibus-laboratório climatizados e equipados com computadores, impressoras, scanner,
TV, vídeo, som, internet e elevador para cadeirantes, os quais percorrem as
comunidades nas diversas Regiões Político-Administrativas da cidade, seguindo roteiros
definidos pelas plenárias do Orçamento Participativo. Essa ação oportuniza o debate em
torno de tópicos de interesse dos participantes, associando-o à apropriação dos
instrumentos da tecnologia e sua utilização em prol do desenvolvimento comunitário e
expressa assim, importante diligência voltada à “inclusão digital”.

Gestão da Tecnologia na Escola

A inserção do uso das TIC no cotidiano escolar deve ser tratada com atenção,
requerendo apropriação dos instrumentos, conhecimento de seu potencial, clareza de seu
papel, responsabilidade na proposição, participação da comunidade interna e externa à


escola e compromisso, de todos os envolvidos no processo, na busca de uma educação
com qualidade social.

Os gestores de uma rede de ensino, ou de uma escola, tem assim um relevante papel na
implementação da proposta de integração das TIC na vida da escola. Cabe-lhes a tarefa
de aprender a lidar com esse novo elemento, sem tratá-lo como ente estranho ao
processo de aprendizagem, mas ao contrário, liderando um processo de debate
participativo e procurando inseri-lo de forma contextualizada no projeto político-
pedagógico da escola. A fim de que as TIC não se tornem apenas um ornamento, ou um
apêndice ou mesmo um estorvo na rede de ensino, é fundamental que sejam
incorporadas na estrutura organizacional desta, criando-se espaços apropriados para o
desenvolvimento de suas ações e para inserção no processo decisório da rede.

Espaços físicos adequados, equipamentos, mobiliário, materiais e suprimentos
específicos, além de materiais mediáticos e especialmente a conectividade, constituem
um conjunto de recursos tecnológicos imprescindível para a efetivação da “inclusão
digital”.

A necessidade óbvia de instalação de infra-estrutura adequada para a consecução de
atividades relacionadas à utilização das TIC nos espaços pedagógicos está associada à
necessidade de similar relevância, porém de menor obviedade, qual seja, a de envolver o
professor na ação.

Tecnologia e Formação de Professores

O modelo inclusivo de gestão das TIC exige a participação do professor como
importante mediador da relação “estudante-máquina”. Considera-se aqui como
professor, tanto aquele que interage diretamente com o estudante, quanto o que assume
funções técnico-pedagógicas, como orientação, supervisão, coordenação ou
acompanhamento pedagógico. Para a inclusão desses profissionais da educação no
ambiente das TIC, há que se constituir uma formação apropriada no âmbito das redes de


ensino. Por um lado, a formação inicial promovida pelas IES ainda não atinge esse
objetivo de forma suficiente. Por outro lado, as aceleradas mudanças no setor das TIC
provocam a necessidade de formação permanente dos docentes, a ser garantida por
programas de formação continuada das redes, por exemplo.

Convém ressaltar, conforme [2] a importância de se evitar a formação puramente
instrumentalista ou dissociada da formação didático-pedagógica, tratando-a de forma
fragmentada. Outra observação, também relevante, refere-se à relação teoria-prática no
processo formativo. No caso das TIC, é fundamental o acesso aos equipamentos e
instrumentos mediáticos durante a formação, desde os primeiros passos, como
igualmente relevante é a prática pedagógica vivencial, discutida em [3]. Nessa
modalidade, o formador acompanha a ação do professor-cursista, participando de modo
intrínseco da aprendizagem deste, quer seja de forma presencial ou a distância.

A constituição de equipes técnico-pedagógicas, a exemplo dos “professores
multiplicadores” no âmbito do Programa Nacional de Informática na Educação [4],
preparadas para o trabalho de sensibilização, orientação, articulação, formação e
estímulo, assumem uma real importância no apoio ao desenvolvimento de projetos
pedagógicos [5] utilizando as TIC por parte dos professores junto aos estudantes.

EAD e a democracia na escola

A constituição de redes colaborativas de aprendizagem mostra-se um poderoso
instrumento de formação, sendo potencializada na modalidade educação a distância
(EAD). De fato, a ampliação de possibilidades e condições no que se refere a tempo e
espaço, nessa modalidade, traz novas perspectivas para professores e estudantes. Por um
lado, a dimensão continental do país e suas desigualdades regionais, exigem ações de
interiorização, alcançadas pela EAD. Por sua vez, a assincronia possibilitada pela
intervenção dos recursos de EAD promove novas oportunidades para grande parte da
população, em particular aos professores, flexibilizando e propiciando a participação de
todos, em processos interativos fundamentais no contexto de aprendizagem.


As Redes de Gestão, por sua vez, abrem espaço para uma participação mais ativa e

permanente de todos os atores do processo educacional. Evidencia-se ainda a utilização

de espaços virtuais como fator de transparência em uma gestão plenamente democrática.

As TIC e a EAD apresentam-se assim como instrumentos pavimentadores do caminho

rumo a uma nova cultura de democratização e participação nos processos educacionais e

de gestão da escola.

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